Medo de voar!

Por diversas vezes eu já escrevi artigos para o blog e posts para as redes sociais sobre o meu pavor de voar.

Não sei muito bem de onde veio esse medo todo, mas ele foi crescente e por muitas vezes me impediu de viajar sozinha de avião. Eu sempre precisava ter alguém da minha família ou amigos viajando ao meu lado.

Mesmo trabalhando com turismo, amando fazer viagens e viajando desde criança, viajar de avião sempre foi algo torturante pra mim. A ansiedade começava no momento da compra do bilhete aéreo e se estendia até meu retorno pra casa.

Durante diversas ocasiões eu sofri sérias crises de ansiedade, como quando passei 4 horas de voo chorando no trecho de Santiago do Chile ao Rio de Janeiro. Ou nas incontáveis vezes em que deixei a mão da minha irmã roxa e dolorida de tanto eu apertar, ou até mesmo quando eu tomei 12 gotas de um remédio controlado, pois a quantidade mínima não fez efeito e nem as 12 (aliás muito cuidado e não faça isso, eu fiz no desespero. Mas foi perigoso o que fiz, segundo médicos com quem conversei depois do ocorrido).

Turbulência é aquela sessão se tortura a parte. Aquele negócio voando a mais de 10.000 pés (mais de 3048 metros de altitude) e ainda balançando, é demais para nosso cérebro apavorado assimilar como algo normal e sem risco.

O pavor sempre fez parte das minhas rotinas de viagem, pois eu sempre tinha medo de algo acontecer e eu não sobreviver.

Em março de 2021, meu pai faleceu. Foi o momento mais triste e doloroso da minha vida. Uma dor imensurável que não cessa nunca mais, e não sou somente eu quem estou falando isso, todos que já perderam alguém que amam muito compartilham dessa dor. Mas o que isso tem a ver com medo de avião? Pra mim, tudo!!!

Viajar sempre me ajudou a curar algumas feridas e eu sabia que precisava disso, só não tinha vontade de fazer. Num momento de descontração com um amigo, compramos uma passagem do Rio de Janeiro para São Paulo, para voar com a mais nova cia aérea do país naquele mesmo ano, a já extinta Ita da Itapemirim.

Durante o voo eu me levantei e fui conversar com os comissários, para saber como estava sendo voar pela nova cia e etc. a conversa durou quase todo o voo, o que foi surpreendente pra mim, pois eu fiquei a todo momento em pé no fundo do avião conversando sem nem lembrar que estava ali.

Refletindo sobre tudo, eu percebi que meu maior medo não era de morrer e sim de não estar mais perto das pessoas que eu amo, mas eu já estava vivendo isso com a partida repentina do meu pai.

Senti na pele que a vida é rápida, que se algo me acontecer somente a vida dos mais próximos vai entrar em suspensão por um período, mas depois o mundo deles vai precisar voltar a girar e que nenhum medo pode ser maior que o prazer de realizar coisas incríveis.

Algumas sessões de terapia para sobreviver ao luto e ressignificar muitas coisas foram me ajudando nessa construção. Ainda vivo o luto, entendi que ele é um processo de altos e baixos, de idas e vindas e não um caminho reto com início, meio e fim, e que precisaria conviver com ele da melhor maneira que eu conseguisse.

Com isso decidi que iria ser cada vez mais independente quando se trata de viagem e foi assim que fiz meu primeiro voo sozinha, menos de 1 ano depois. Foi um voo super tranquilo do Rio de Janeiro à Porto Alegre e que me ajudou a aumentar muito a minha confiança em mim mesma.

O meu pavor de ontem, se transformou em algo mais brando, talvez um medo controlado. Venho aprendendo a lidar com o fato de eu não ter controle sobre fatores externos a mim. Mas a decisão de encarar esse desafio foi minha e estar no controle disso, faz com que eu me sinta mais segura para vivenciar as experiências com menos angústia.

Confesso que não sou a mais corajosa e que ainda sinto um frio na barriga, principalmente nas decolagens e pousos. O medo segue por aqui, mas é algo hoje que eu consigo domar e desviar o foco dele. Aliás todo esse artigo está sendo escrito sentada num assento de um Airbus 319 voando do Rio de Janeiro à São Paulo e passando por algumas turbulências, uma evolução.

Espero que contar a minha história te inspire a não paralisar seus sonhos por medos. Fobias possuem tratamento e encontrar um meio do caminho pode te fazer viver experiências maravilhosas.

Michele Raggio do Rêgo

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